Curadoria noticiosa, um antídoto contra a avalanche informativa na internet


Carlos Castilho é jornalista
Por Carlos Castilho
Num dia comum, poderia ter sido na sexta feira, dia 13/7, em apenas 24 horas, 250 milhões de fotos foram postadas no Facebook, 840 mil horas de vídeos foram parar no YouTube e cerca de 300 bilhões de mensagens de correio eletrônico circularam pela Web. É um verdadeiro massacre informativo. Algo nunca visto na história da humanidade.

Diante de números com tantos zeros fica fácil perceber que as pessoas comuns não têm a menor chance de usar nem mesmo uma fração mínima desta avalanche de dados. Pior do que isto: à frustração deve-se somar a incerteza, porque são tantos os dados e informações que  não temos mais possibilidade de saber se estamos acessando conteúdo confiável e adequado ou somos vítimas de engodo ou se estamos jogando dinheiro fora.

É por isto que indivíduos, comunidades, empresas e governos começam a dar cada vez mais atenção a um fenômeno, que não é novo, mas na era da internet passou a ter uma importância crítica tanto para quem deseja saber se vai chover ou não, quanto para empresas diante de decisões sobre investimentos de bilhões de dólares, onde o fracasso pode significar a falência irremediável.

É a curadoria, uma ferramenta que combina fatores tecnológicos e humanos na tentativa de procurar separar o joio do trigo no meio da avalanche informativa. São os softwares que fazem uma seleção automática de informações, como o Google News, e especialistas de carne e osso atuando tanto individual como coletivamente, para orientar de pessoas comuns até tomadores de decisões.

Onde entra muito dinheiro, como nas empresas, a curadoria informativa já tem espaço garantido, especialmente nas grandes corporações, mas agora ela começa a ser procurada também pelo cidadão comum. Até agora ele confiava na imprensa e nos jornalistas para receber orientação informativa. Mas a massa diária de novos dados, fatos e notícias cresceu tanto e se tornou tão acelerada que as rotinas tradicionais nos jornais e entre profissionais autônomos não conseguem mais dar conta do recado.

Está surgindo um novo tipo de profissional, atuando de forma individual em grupo. O jornalista curador ganha importância porque sua experiência e conhecimento no manejo da informação o credenciam a orientar grupos de cidadãos em matéria de cardápio noticioso. Trata-se, é claro, de um trabalho que foca num segmento muito reduzido da realidade, como é o caso, por exemplo, das informações locais ou um ramo específico de atividade profissional, hobby ou preferência cultural.

Outro setor que está crescendo muito é o das comunidades de curadoria informativa, onde profissionais e amadores de uma mesma área de conhecimento juntam-se para maximizar o potencial de coleta e análise de informações para empresas, associações e governos. Trata-se de uma atividade onde a confiança, credibilidade e conhecimento são tão essenciais que até agora ninguém se arriscou a tentar regulamentá-la.

O 'Observatório da Imprensa' pratica a curadoria muito antes dela se tornar moda na internet. Há 16 anos fazemos uma leitura crítica da imprensa para orientar os leitores de jornais, ouvintes, telespectadores e agora também os internautas sobre noticias descontextualizadas, equivocadas ou tendenciosas. O que foi um trabalho pioneiro, hoje está se transformando numa atividade que se tornará cada vez mais relevante no exercício profissional, conforme especialistas na matéria como a professora Beth Saad, da USP.

Se o jornalismo, por um lado, perdeu o monopólio na produção de notícias depois que a internet deu ao cidadão comum o poder de publicar suas opiniões e informações, por outro tem tudo para assumir uma posição-chave na orientação e tutoria informativa tanto de pessoas comuns como de empresas, associações e governos.

A grande diferença na curadoria é que os critérios de imediatismo e exclusividade passam a ser bem menos importantes e requisitados do que a credibilidade, contextualização e adequação das informações às necessidades dos usuários. Vai estabelecer também uma nova relação financeira entre provedores e receptores de conteúdos previamente 'curados'.  Mas esta é outra questão que podemos conversar noutro momento.
 
Carlos Castilho é jornalista com 35 anos de experiência em rádio, jornais, revistas, televisão e agências de notícias no Brasil e no exterior. Pode ser encontrado no blog Código Aberto. Twitter: @ccastilho.

Fonte: Observatório da Imprensa e Nós da Comunicação 

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