Espaço virtual de aprendizagem - Estudo1.8

A geração que mais utiliza os recursos da web 2.0 na vida privada deixa de valorizá-los quando se trata dos ambientes virtuais de aprendizagem. (Revista Ensino Superio 142)

A moda é recorrente entre as instituições de ensino: seja no ensino a distância ou presencial, parece ter se tornado obrigatória a construção de um espaço virtual de aprendizagem. Mas, mesmo se tratando da geração y, será que os alunos utilizam a ferramenta de forma pedagogicamente proveitosa? Um estudo divulgado recentemente desconstruiu alguns mitos sobre o comportamento desses jovens e revelou dados impressionantes, como o que mostra que as ferramentas de comunicação e interação são pouco valorizadas pelos alunos quando se trata do uso educacional.

A pesquisa, que demorou três anos pra ficar pronta, foi realizada pelo doutor em Administração pela USP Silvio Carvalho Neto, e buscou ressaltar a importância do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) como ferramenta de apoio ao ensino tradicional presencial. O resultado foi uma tese de doutorado defendida no final do ano passado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Os AVAs são sistemas de informação disponíveis na internet e que agregam funcionalidades de comunicação e interação e outros recursos didáticos voltados ao processo de ensino e aprendizagem. "A ideia central do trabalho foi verificar quais eram as dimensões de qualidade consideradas importantes pelos alunos", explica o autor da pesquisa. Para isso, Silvio ouviu alunos dos cursos superiores de administração e comunicação social do Centro Universitário de Franca (Uni-Facef), onde é professor titular.

A pesquisa revelou dois pontos interessantes. O primeiro deles é que os alunos pouco valorizam as ferramentas de comunicação e interação como blogs, wikis, chats e conferências de áudio e vídeo. Por outro lado, dão atenção aos componentes de trabalho individual como o download de aulas, textos pontuais, notas mural e tópicos de ajuda, limitando o uso dos ambientes virtuais a simples sistemas de consulta.

"Constatamos que o aluno tende a valorizar também no virtual aquilo que está no presencial", analisa o pesquisador. As ferramentas mais valorizadas pelos estudantes foram o material para download, glossário, links externos, mecanismos de busca, tópicos de ajuda, mural, sala de aula virtual e fácil acesso. Já entre as funcionalidades menos valorizadas estão a tradução para outros idiomas, wiki, ambientes 3D interativos, blog e atividades e jogos.

Vale lembrar que o estudo ouviu apenas alunos que utilizavam o AVA como suporte à aula presencial, mesmo assim o pouco interesse por elementos da chamada web 2.0, tão valorizada pelos jovens estudantes em seu próprio dia a dia, não se refletiu nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem.

Osegundo ponto que chamou a atenção na pesquisa relacionou as características de qualidade da informação e do design do sistema com as dimensões de frequência de uso, satisfação e benefícios identificados no AVA, isto é, a questão foi descobrir quais elementos do sistema estavam diretamente relacionados com a boa percepção do suporte pedagógico.

O que se observou foi que, apesar de os alunos considerarem que a qualidade do sistema impacta mais na satisfação do que a qualidade do conteúdo disponibilizado, ambas as dimensões foram consideradas como determinantes na avaliação do AVA. Para os estudantes, os aspectos mais valorizados na qualidade da informação dos AVAs foram a confiabilidade, a relevância e a exatidão. Portanto, quando analisado o conteúdo, o que mais se espera por parte dos usuários é que as informações contidas no sistema sejam confiáveis e precisas.

Já no que se refere ao sistema, o que mais contribui para uma percepção positiva são atributos que se espera de qualquer ambiente virtual: facilidade de navegação, velocidade, funcionalidade e a atratividade visual. Para Silvio, todas as características referentes à qualidade da informação e do sistema se mostraram estatisticamente relevantes, portanto, todas devem ser consideradas em conjunto. "Para o aluno, a boa qualidade percebida é o que determinará sua intenção de reutilizar o sistema", analisa.

Também foi perguntado aos alunos o motivo pelo qual eles acessam o AVA. A maioria respondeu que facilita o aprendizado (51%), seguida de perto pelos que acham que os ambientes organizam melhor a aula (46,4%) e outros responderam porque era obrigatório (2,7%). Mas se os alunos querem acessar o sistema e reconhecem sua importância, por que não utilizam todas ou a maioria das ferramentas disponíveis? Para Silvio a resposta é clara: porque não são incentivados pelos professores. "Os professores em estudo não tinham um papel ativo na utilização do AVA como complemento da aula e isso talvez explique por que ainda os alunos enxergam as funções de interação e comunicação como indiferentes", diz. "Adquirir e implantar um sistema não basta. É preciso treinar e criar incentivos para que os docentes utilizem o AVA como apoio ao ensino extraclasse", completa.

E é bom que os professores e diretores assimilem bem rápido esse pensamento, criando definitivamente a cultura de uso desses sistemas. Com o conceito de computação em nuvem (cloud computing), muitos dados já estão sendo armazenados em servidores virtuais podendo ser acessados por qualquer dispositivo a qualquer hora. "Se sua geladeira tiver acesso à internet você poderá ter uma aula de matemática financeira tomando café da manhã", explica Silvio.

Para o professor, entretanto, não existe um modelo a ser seguido, primeiro porque cada área do saber tem suas características e peculiaridades. Na visão do docente, um AVA voltado para o curso de medicina talvez seja completamente distinto de um idealizado para o curso de letras ou ciências da computação, por exemplo. Também existem vários níveis de ensino e os ambientes são diferentes para o ensino a distância, pós-graduação ou para a educação básica.

Mesmo não tendo um modelo ideal é possível listar alguns elementos que devem ser empreendidos no ambiente virtual. Na opinião do professor, qualquer sistema de informação deve considerar três dimensões básicas: tecnologia da informação, recursos humanos e processos organizacionais. "É preciso que as instituições de ensino superior observem seus processos e avaliem o nível de capacidade dos seus professores antes de implantar um AVA", recomenda.

Em relação à qualidade, a procura pela excelência dever ser um processo contínuo de constante renovação. Um AVA de qualidade é fundamental para uma universidade, na medida em que o ambiente representa a própria instituição no mundo virtual. Os AVAs são tão importantes que acabam agregando valor ao processo de ensino e aprendizagem, fortalecendo a imagem das instituições. Então, é hora de avaliar o modelo existente, fazer ajustes e se adaptar às necessidades dos usuários.

Veja o que é preciso para compor um Ambiente Virtual de Aprendizagem relevante para os alunos, segundo o professor Silvio Carvalho Neto
- Atualidade: as informações são atuais;
- Autoria: apresenta as referências sobre a autoria das informações e a fonte de origem;
- Completude: as informações são concisas, mas suficientes;
- Confiabilidade: é confiável e representa a realidade;
- Exatidão: as informações são corretas, livres de erros gramaticais e/ou ortográficos;
- Interpretabilidade: é de plena compreensão e fácil de ler visualmente e textualmente;
- Precisão: as informações têm alto nível de detalhamento;
- Atratividade visual: a aparência é agradável com um visual simples;
- Consistência: o estilo visual é padronizado, coeso em seus aspectos visuais;
- Disponibilidade: está disponível para acesso, livre de erros em todos os dias da semana;
- Facilidade de acesso: as informações são facilmente encontradas;
- Navegação: é fácil, intuitiva e consistente, sem erros;
- Bloco de notas: possui espaço privado disponível ao aluno para anotações pessoais;
- Retorno: tem funcionalidades para dar retorno a problemas dos alunos com rapidez;
- Glossário: disponibiliza glossários com termos de ajuda e os principais conceitos e termos da disciplina;
- Links externos: disponibiliza e permite a inclusão de atalhos para sites e materiais de outros sites;
- Informações gerais: sobre o curso (ementas, objetivos, cronogramas e atividades previstas) e sobre os professores;- Material para download: arquivos em formato eletrônico de material de aula para download;
- Mecanismos de busca: para procura de informações;
- Audioconferência: salas de bate-papo com o uso de texto, voz e som;
- Chat textual: tem salas de bate papo (chat) textual para interação em grupo em tempo real;
- Comunicador instantâneo: possui uma área de conversa e troca de arquivos em tempo real;
- FAQ ajuda: contém ferramentas e menus de ajuda, área de perguntas frequentes (FAQ) e suporte online;
- FAQ inteligente: possui um sistema de respostas imediatas às dúvidas de acordo com a base de dados das perguntas já realizadas e o histórico dos participantes;
- Fóruns de discussão: fóruns de discussão em grupo sobre temas diversos;
- M-Learning: estende as funcionalidades para serem acessíveis também via equipamentos móveis;
- Multimídia: as informações estão em diversos tipos de mídia;
- Mural: possui uma área para pu-blicação de avisos e notícias, agenda e calendário;
- Sala de aula virtual: contém espaço que simula a sala de aula, com a apresentação simultânea de vídeo, slides, narrações e imagens;
- Videoconferência: disponibiliza salas de bate-papo em que é possível o uso de vídeo, voz e sons;
- Wiki: permite ferramentas Wikis para construção coletiva de textos na web em formato multimídia.

Fonte: Revista do Ensino Superior nº 142/ Texto: Luis Guidi

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