Educação para a Mídia em Portugal

Veja abaixo matéria publicada no site da Beira TV sobre projeto de educação para a mídia da região de castelo Branco, em Portugal.
Com os média a conquistarem cada vez mais tempo no quotidiano dos cidadãos, a literacia dos média e a literacia digital são áreas que têm vindo a preocupar os pedagogos.


Um doutoramento na Universidade de Lisboa ("CD-ROM Vamos fazer jornais escolares: um contributo para o desenvolvimento da Educação para os Média em Portugal") sobre um suporte destinado a auxiliar professores e alunos do segundo e terceiro ciclos a produzirem jornais escolares impressos e online esteve na base do projecto “Educação para os Média no Distrito de Castelo Branco” (ver artigos científicos aqui, aqui e aqui).


O trabalho, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Fundo Social Europeu, foi desenvolvido ao longo de três anos com a comunidade local, e acompanhado de perto por investigadores de oito universidades (cinco portuguesas, duas europeias e uma sul-americana).


“Procurámos sempre dar uma dimensão nacional e internacional ao irmos pedir a consultores que eram muito experientes, em Portugal ou no estrangeiro, que nos ajudassem”, explica à Beira TV Vítor Tomé, responsável pela implementação do projecto. “Isso é que nos permitiu fazer evoluir o projecto, criar o concurso de jornais escolares, e ao mesmo tempo foi a primeira vez em Portugal que foi feita uma formação a mais de cem professores na área da educação para os média”, acrescenta o docente da Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Castelo Branco e jornalista do semanário regional Reconquista.


Sediado na ESE, o projecto centrou-se na produção e distribuição de conteúdos em papel e na Internet. A colaborar com as escolas do segundo e terceiro ciclos estiveram também o Laboratório de Comunicação Online (LabCom) da Universidade da Beira Interior (UBI), a empresa Netsigma e o Reconquista.


“Criou-se uma espécie de identidade territorial em torno de Castelo Branco. É um projecto muito interessante porque mostra que há muito dinamismo em torno da produção e da publicação pelo jovens, e vê-se que os professores e os alunos se envolvem com prazer. Isso não se vê muito nos outros países europeus”, destaca Evelyne Bevort, consultora do projecto.


“Nos outros países são utilizados não só os jornais em papel, mas também as produções online ou televisivas. No entanto, demo-nos conta de que a produção para os jornais em papel reúne mais competências e aprendizagens. O trabalho em equipa é mais visível, e isso permite aos jovens trabalhar de forma diferente”, reitera a também directora-delegada do CLEMI - Centro de Ligação do Ensino e dos Meios de Informação, sob a tutela do Ministério da Educação francês.


Para além de um DVD, plataforma de produção e de um sítio na Internet, a iniciativa abrangeu a criação de fichas pedagógicas e de um manual de apoio, já traduzidos para inglês. Envolvidos estiveram 50 professores e 600 alunos de 24 dos 29 agrupamentos e escolas não agrupadas da área educativa de Castelo Branco. Vinte delas tornaram-se publicadores activos, contando com a impressão gratuita dos seus 24 jornais (ao longo de dois anos foram 70 mil exemplares de 105 edições, com seis mil artigos).


Periódicos onde, maioritariamente através de notícias e crónicas, se fala sobretudo da escola, da educação e das visitas de estudo, mas também do ambiente, ciência e tecnologia, saúde ou desporto. Um dos casos de sucesso é "O Teixo", do Agrupamento de Escolas do Teixoso (Covilhã), vencedor junto com "Gente em Acção", do Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão, do concurso de jornais escolares promovido com o apoio do Governo Civil de Castelo Branco e da ADRACES.


“O jornal é distribuído aos alunos, mas os alunos por sua vez fazem uma distribuição no fim de semana à porta da igreja. O jornal é apresentado pelo pároco da vila, a partir do altar, e depois avisa as pessoas que vão haver alunos e professores que estão à porta, vão dando os jornais a todas as pessoas que querem, e podem contribuir com aquilo que entendem. A comunidade envolve-se, e entendo o jornal como deles”, conta Vítor Tomé.


“A maior parte dos alunos colabora bastante, mas não tanto com o jornal escolar porque não sentem que o jornal é deles. Eles sentem que os temas são impostos pelos professores”, lamenta Maria Helena Menezes, investigadora responsável pelo projecto. Se o jornal estivesse mais na linha dos interesses dos alunos, acho que os resultados teriam sido outros”, conclui a professora da ESE.


No entender de Paulo Serra, presidente da Faculdade de Artes e Letras da UBI, “há uma contradição entre aquilo que os jovens, os professores e as escolas continuam a gostar, que é o impresso, e aquilo que a realidade nos impõe, que é cada vez mais o online”.


“O online implica uma gramática própria. Há uma sintaxe e uma semântica da notícia que não é a mesma da notícia e do conteúdo impresso”, pressupõe, lembrando que “essa é alguma da investigação que tem sido feita no LabCom”.


“Penso que há interesse em que as próprias escolas do ensino básico e do ensino secundário dêem um passo em frente na criação de conteúdos online e depois na própria descodificação, que se torna ainda mais complexa do que a informação que é veiculada pelos meios impressos”, justifica o docente da Covilhã.


Educação para os média leva avanço em países como a Austrália ou o Canadá. Tema emergente na Europa, e que ganhou importância com os meios digitais. Em Portugal, vários jornais nacionais e regionais (ver exemplos do Público, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Gazeta do Interior) têm apostado numa aproximação às escolas.


A um nível regional, juntam-se agora outros parceiros e a componente cívica. Tudo para que os alunos, utilizando os meios tecnológicos das escolas, saibam interpretar e analisar as mensagens dos média, bem como produzir conteúdos utilizando a escrita ou a linguagem do audiovisual.


“Grande parte das pessoas dedicam o seu tempo de lazer a ver televisão, a navegar na Internet, a consultar multimédia. Se ninguém nos preparar para consumir estas mensagens, seremos analfabetos perante o mundo audiovisual”, alerta Ignácio Aguáded-Gomez, um dos observadores que acompanhou o projecto.


“Um dos grandes desafios que a escola e a educação devem ter é preparar a cidadania para formar-se perante estes meios. Tanto em Espanha como em Portugal e outros países europeus, há já uma preocupação, incluso a nível político e institucional, para que procuremos propostas alternativas no que se começa a chamar de competência comunicativa ou audiovisual, que são as chaves de interpretação da realidade desde um ponto de vista mediático”, defende o catedrático da Universidade de Huelva, em Espanha.


Nesse sentido, alguns dos professores envolvidos no projecto da ESE decidiram dar continuidade à investigação na área da educação para os média.


“Estão a procurar outras áreas e suportes, não só o jornal escolar, mas a televisão, o vídeo. Há vários estudos que envolvem a produção de mensagens para as redes sociais por parte dos alunos”, exemplifica Maria Helena Menezes. “Este trabalho nunca está terminado, porque os média não param de evoluir”, insiste, por seu turno, Evelyne Bevort.


“Os alunos estão rodeados de média, e não podem aceitar passivamente tudo aquilo que lhes aparece”, contrapõe Maria Helena Menezes. “Eles têm que ler criticamente, e um dos objectivos foi que conseguissem também serem activos na partilha das suas ideias e opiniões”. No entanto, fica o reparo. “Não temos só de ensinar as pessoas a defenderem-se da televisão, senão a apropriarem-se do meio audiovisual para que possam comunicar com ele e transformar-se”, argumenta Ignácio Aguáded-Gomez, chamando a atenção para outra questão. “Porque é que nas escolas as crianças têm obrigatoriamente de traduzir tudo o que sabem em textos escritos? Porque não podem utilizar uma câmara, um computador ou uma página na Internet?”


“Alguns professores referiam no final: eu não mudei só a imagem que tinha dos média, mas mudei as minhas práticas pedagógicas em função dos média”, diz Vítor Tomé, sintetizando o impacto da iniciativa nos próprios docentes. Do projecto, que tem sido apresentado em conferências dos Estados Unidos ao Japão e poderá vir a ser reproduzido noutros pontos do país, resultou também o livro de boas práticas "A Educação para os Média e o Jornal Escolar na Promoção da Leitura e da Escrita", produzido por mais de 20 docentes.


Já em Março de 2011 será publicado um outro com os resultados finais do projecto.Entretanto, os professores envolvidos apostam num grupo de Educação para os Média. Integrá-la nos programas de algumas disciplinas, alargá-la ao ensino secundário ou integrar professores com literacia digital nas equipas são algumas das sugestões deixadas em cima da mesa pelas quatro dezenas de docentes que, ainda no âmbito do projecto, mantêm uma rede e um grupo de discussão.


Ver o vídeo dessa matéria aqui!

Fonte: BeiraTV.PT

Jorge Costa (texto, imagem e edição)

Arquivo Beira TV

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