Os jornais não vão morrer, diz Talese

Matéria reproduzida da Folha de São Paulo - 31/05/2012
Marco Rodrigo Almeida (Foto:Daigo Oliva/FolhaPress)


Ouvir Gay Talese falar é tão bom quanto ler seus textos.
Em cerca de uma hora e 30 minutos de palestra, o célebre jornalista americano cativou a plateia do Tuca com casos saborosos sobre sua formação e início da carreira.
Talese é um dos principais nomes do que ficou conhecido como "jornalismo literário". Ele é autor de livros como "Honra Teu Pai", "A Mulher do Próximo" e "O Reino e o Poder".
Talese destilou bom humor desde o início. Chamado de "lenda do jornalismo" pelo repórter da Folha Ivan Finotti, que mediou a palestra, Talese disse: "Estou contente com a apreciação tão elogiável desse meu colega exótico dizendo coisas tão exóticas".
Logo em seguida, homenageou a organizadora do Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural, Daysi Bregantini.
"Muito obrigado Daysi. Estou feliz por ser parte do programa."



Jornalista Gay Talese após palestra na Folha de S.Paulo
Jornalista Gay Talese após palestra na Folha de S.Paulo


Talese começou sua apresentação falando de sua infância. Filho de imigrantes italianos, nasceu na ilha de Ocean City, Nova Jersey, em 1932. A famíla morava em um prédio onde antes funcionava um jornal. No térreo ficava a alfaiataria do pai.
Era o inicío dos anos 1940 e a diversão do pequeno Talese era observar os clientes.
"Eu pensei: não tenho que sair da loja para encontrar as histórias. Elas podem ser encontradas em qualquer cidade. Via um romance emergindo, com muitos personagens."
A aparente calma do ambiente familiar pelas manhãs dava lugar a apreensões noturnas, quando seu pai ouvia notícias da 2ª Guerra pelo rádio. Estes contrastes alimentaram a curiosidade do futuro jornalista.
"Parte do que sou como jornalista é resultado dessa formação, desse momento histório", definiu.
Na escola Talese não foi dos alunos mais brilhantes. "Não se dava nota no que eu era melhor, a curiosidade."
Por volta dos 14 anos, começa no jornalismo escrevendo num jornal da escola.
Em 1953, depois de cursar jornalismo na Universidade do Alabama, começou a trabalhar no jornal "New York Times " como office-boy. Em pouco tempo ganharia fama com suas reportagens.
"Gradativamente ganhei uma reputação de ter um olho para o detalhe diferente do repórter comum. Os outros esperavam a notícia acontecer para ir cobrir - um acidente de avião, um suicida no alto de um prédio. Eu descrevia como o acidente aéreo afetava as pessoas de uma barbearia."
"Por serem bem escritas, as notícias não precisavam de pessoas famosas. Poderiam ser sobre qualquer um. Foi uma lição que aprendi na loja de meu pai."
Para uma plateia formada, em sua maioria, por estudantes de jornalismo, Talese deu alguns conselhos para ser um bom repórter.
"A observação é essencial. O jornalismo é ir aos fatos, estar lá, ver você mesmo. Você não pode fazer reportagem pelo telefone, pelo Google. Tem que presenciar se quiser escrever alguma coisa."
Outra questão levantada pela plateia foi sobre o futuro do jornalismo diante das novas tecnologias digitais. Talese aposta que sempre haverá espaço para o bom jornalismo.
"Se contar uma boa história, se for bem escrito, se prender atenção, o jornalismo vai durar para sempre. Os jornais não vão morrer. Há um mercado para a qualidade. Sempre haverá jornalismo de alta qualidade. Talvez seja bom que exista uma ameça, pois o jornalista é forçado a mudar. Meu recado é: não se preocupe, faça o seu melhor."

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