Livro e leitura serão debatidos em fórum online da Rede Mobilizadores Coep



Entre 22 e 26 de abril acontecerá o fórum online da rede de Mobilizadores Coep (Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida)A atividade, promovida em comemoração ao Dia Nacional do Livro Infantil (18 de abril), será facilitada pela cientista social e diretora de Educação e Cultura do Instituto Ecofuturo, Christine Fontelles e discutirá, entre outros tema, os índicos de leitura do brasileiro, preços dos livros no país, incentivo à leitura em casa e na escola, etc.

O fórum virtual acontece na página www.mobilizadores.org.br e para participar, basta se cadastrar gratuitamente no site. 

Sobre a leitura no país - Os brasileiros leem menos que seus vizinhos do Chile e da Argentina e bem menos que os europeus. Recentemente, foi divulgado o primeiro balanço de hábitos de leitura de países membros do Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe (Cerlalc) - órgão da Unesco responsável pelo fomento regional ao livro e à leitura na América Latina, no Caribe, em Portugal e na Espanha - com dados de dez países que promoveram pesquisas nacionais. O Brasil ficou em quinto lugar no número de livros lidos ao ano (4), depois de Espanha (10,3), Portugal (8,5), Chile (5,4) e Argentina (4,6).

Há 40 anos, o Cerlalc busca soluções para os baixos índices de leitura na América Latina. O colombiano Fernando Zapata López, diretor da instituição, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, disse acreditar que um dos maiores problemas na América Latina é que falta insistir na leitura desde cedo, dentro de casa. "Temos uma massa de leitores por obrigação. A leitura se dá na educação, seja nos níveis básico, elementar ou universitário, e no trabalho. Mas fora desses marcos não temos a leitura por gosto, por hábito", disse.

Veja abaixo entrevista da Rede de Mobilizadores com Christine Fontelles. Para ela, o hábito da leitura deve vir de casa. "A meu ver, não temos uma cultura de leitura e, portanto, de biblioteca instalada na sociedade. A educação para a leitura é atividade delegada exclusivamente à escola, quando deveria ser iniciada na família, antes mesmo de a criança saber ler ou escrever". 

Movimento quer a disseminação de bibliotecas nas escolas do país
Com a mobilização de mais de 1 milhão de pessoas via redes sociais, a campanha Eu Quero Minha Biblioteca, alavancada pelo Instituto EcoFuturo em parceria com diversas organizações, pretende fazer valer a Lei 12 244/10, que prevê que todas as instituições de ensino públicas e privadas do país possuam uma biblioteca até o ano de 2020.
Para isso, o movimento pretende divulgar amplamente a Lei e a existência de recursos federais destinados à educação que podem ser utilizados também para a criação e manutenção de bibliotecas em escolas.
Christine Fontelles, cientista social e diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo, revela que 72,5% das escolas públicas do país não têm biblioteca, e apenas 19,4% das novas instituições construídas desde 2008 as têm, segundo dados organizados pelo Movimento Todos Pela Educação. E que o Brasil precisa construir 130 mil bibliotecas até 2020 para cumprir a Lei, revelando um déficit em 16.731 escolas privadas. 
Nesta entrevista, ela fala da importância das bibliotecas no estímulo à cultura da leitura, ao prazer de ler, e da importância da leitura para a diminuição da evasão escolar, do pleno letramento e do aumento nas taxas de aprovação nas escolas.

Rede Mobilizadores - O que é o movimento Eu Quero Minha Biblioteca? Qual é seu objetivo e sua importância?
R.: A Lei 12 244/10, que determina a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país, representa um avanço significativo, resultado de cerca de sete anos de intenso trabalho de advocacy*1 do Conselho Federal de Biblioteconomia. Representa, também, um desafio igualmente expressivo. Estas razões levaram à criação da coalizão Eu Quero Minha Biblioteca.
Rede Mobilizadores - Quais são as entidades parceiras e o que a campanha pretende divulgar?
R.: A coalizão é formada por organizações que tradicionalmente atuam nas áreas de educação, leitura e biblioteca: Academia Brasileira de Letras, Conselho Federal de Biblioteconomia, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Grupo Marista de Solidariedade, Instituto Ayrton Senna, Instituto C&A, Instituto pela Corresponsabilidade na Educação (ICE), Movimento por um Brasil Literário e Todos pela Educação.
A campanha, lançada em setembro de 2012, tem o objetivo de divulgar amplamente a Lei 12 244/10 e a existência de recursos federais destinados à educação que podem ser utilizados também para a criação e manutenção de bibliotecas em escolas públicas de todo o país. Mais informações podem ser obtidas no site www.euquerominhabiblioteca.org.br.
Rede Mobilizadores - A campanha pretende também melhorar a comunicação sobre as leis e os recursos públicos destinados à educação? Como isso se daria?
R.: A base desta iniciativa do Instituto Ecofuturo é a experiência de mais de 12 anos em advocacy para viabilizar a implantação de bibliotecas abertas às comunidades Brasil adentro, em parceria com o poder público local. Isto resultou na realização de oficinas de Gestão Pública e Bibliotecas, ministradas pelo pesquisador Fernando Burgos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para o staff das prefeituras, secretários de educação, vereadores, diretores de escola, professores, profissionais de biblioteca e líderes comunitários.
O conteúdo, que apresenta os recursos federais destinados à educação (como PAR, Fundeb e PNBE*2) que também podem ser utilizados para assegurar a criação e manutenção de bibliotecas, organizado e redigido pelo pesquisador da FGV, está editado em uma publicação, peça-chave da campanha, onde há indicação sobre as linhas de recursos disponíveis, os caminhos a serem percorridos e as políticas públicas existentes para a perpetuidade da Lei como política pública. A publicação, juntamente com uma carta-convite de adesão à campanha, está sendo enviada a todos os partidos políticos, governadores, prefeitos, secretários de educação, parlamentares das Comissões de Educação da Câmara e do Senado, e organizações não-governamentais que atuam nas áreas de educação e leitura, entre outros. E está disponível para download gratuito no site da campanha, juntamente com outros materiais, e ganha escala de divulgação por meio dos parceiros da coalizão e de todos que aderirem a esta mobilização.
Mais de 1 milhão de pessoas visualizaram a campanha via redes sociais, que vem sendo também amplamente divulgada pela imprensa.

Rede Mobilizadores - Faltam bibliotecas nas escolas brasileiras? Qual é a causa deste cenário?
R.: Faltam bibliotecas no país! É bastante curioso observar que o surgimento das bibliotecas nacionais, no continente americano, data do início do século XIX: Estados Unidos, Chile, Argentina. E Brasil, cuja Biblioteca Nacional foi fundada em 29 de outubro de 1810. Por alguma razão, ou por várias, fomos ficando para trás, até chegar ao quadro atual, em que há 152 municípios brasileiros sem bibliotecas, e daqueles que têm pelo menos uma, apenas 24% abrem à noite e somente 12% funcionam aos sábados, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, realizada a pedido do Ministério da Cultura.
O déficit de bibliotecas nas escolas brasileiras – públicas e privadas – é igualmente expressivo: segundo dados organizados pelo Movimento Todos Pela Educação, baseado no Censo Escolar de 2011, 72,5% das escolas públicas não têm biblioteca, e apenas 19,4% das novas instituições construídas desde 2008 têm biblioteca. O Brasil precisa construir 130 mil bibliotecas até 2020 para cumprir a Lei 12.244/10; revelando que faltam bibliotecas em 16.731 escolas privadas. Um enorme prejuízo, se considerados os resultados da edição 2012 da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil*3, que mostrou que, entre os 5 e 17 anos, as bibliotecas escolares estão à frente de qualquer outra forma de acesso ao livro (64%).
A meu ver, não temos uma cultura de leitura e, portanto, de biblioteca instalada na sociedade. A educação para a leitura é atividade delegada exclusivamente à escola, quando deveria ser iniciada na família, antes mesmo de a criança saber ler ou escrever. Logo, o que se apresenta é que desconhecemos, como sociedade, a importância em educar para ler e o valor da biblioteca como um local de acesso democrático e gratuito aos livros, que precede a própria escola e se prolonga para depois dela.
Com a internet e a cultura digital, discute-se atualmente a importância da biblioteca. Ora, num país com os indicadores que temos, não podemos nos dar ao luxo de prescindir de qualquer tecnologia para que a leitura cumpra a sua função nos lugares mais improváveis. E para quem discute a relevância de uma biblioteca num mundo em que a leitura digital está disponível é importante conhecer a experiência de Madri, que recentemente criou a Casa del Lector, pensada para atender desde bebês de 9 meses, onde o leitor pega emprestado um Kindle com 50 novos títulos, e pensada para promover intimidade com o novo suporte de leitura.
Rede Mobilizadores - Existem recursos disponíveis para ampliar a infraestrutura de leitura nas escolas atualmente? Onde as escolas podem conseguir orientação nesse sentido?
R.: Sim, há recursos federais destinados à educação que podem ser utilizados também para a criação e manutenção de bibliotecas em escolas. A publicação que apresenta estes recursos pode ser acessada gratuitamente em http://www.euquerominhabiblioteca.org.br/materiais/orientacoes-sobre-como-acessar-recursos-publicos-para-implementar-e-manter-bibliotecas.pdf
Rede Mobilizadores - O que revelou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil? Ela motivou a campanha?
R.: Todo o trabalho que realizamos está baseado em pesquisas, pois a ideia é contribuir para a realização de ações que possam apoiar a melhoria dos indicadores, e a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é uma fonte importante, também. A edição de 2011 revelou que crianças e jovens estão lendo menos, na comparação com a pesquisa de 2007, apesar de haver aumentado expressivamente a quantidade de livros editados; mostrou que entre os 5 e 17 anos, as bibliotecas escolares estão à frente de qualquer outra forma de acesso ao livro (64%). Dados do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) de 2003 revelou que o aumento da proficiência em leitura está diretamente proporcional ao aumento do uso da biblioteca (de 25% para 75% dos alunos). E o que gera maior aumento nesta média é a disponibilidade de profissional fixo na biblioteca e as atividades dirigidas realizadas por professores neste espaço. E a pesquisa que realizamos em 2008, sob a supervisão de Ricardo Paes de Barros - pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que atualmente é Secretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos -,  revelou que em escolas próximas das bibliotecas que o Ecofuturo ajudou a implementar (Biblioteca Ler é Preciso), a evasão escolar diminuiu 46% a mais do que nas escolas que não estavam próximas das Bibliotecas Comunitárias Ler é Preciso. Escolas no entorno das bibliotecas do projeto registraram uma elevação de 156% na taxa de aprovação, na comparação com as demais escolas.
Ou seja: temos dados mais do que suficientes para apontar a urgência em tornar este assunto uma prioridade na agenda nacional, se não queremos ano após ano lamentar os mesmos dados altamente negativos de letramento (apenas 24% da população brasileira entre 15 e 64 que frequentou a escola são plenamente alfabetizados, segundo dados do Indicador de Analfabetismo Funcional - Inaf - de 2011) e desempenho escolar.
Rede Mobilizadores - Qual o papel do professor no incentivo à leitura? Como deve ser uma biblioteca que incentive os alunos a cultivar o hábito da leitura?
R.: Segundo a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil de 2011, 45% das crianças citam professores como maior influenciador no hábito de leitura, seguidos pela mãe, com 43%, e pai, com 17%.  Há importantes referências mostrando que o hábito da leitura depende, certamente, de uma diversidade de fatores, sendo um deles a disponibilidade física de livros para consumo. Ou seja, bibliotecas. Contudo, parece evidente que peso igual à existência de bibliotecas é a sua atratividade, inclusive para a realização de pesquisas escolares. E o que gera maior aumento nesta média é a disponibilidade de profissional fixo na biblioteca e atividades dirigidas realizadas por professores neste espaço.
É preciso pensar esta biblioteca com espaço adequado, acervo qualificado e pessoas especialmente formadas para iniciar na leitura os alunos, professores e a própria comunidade – e sei que o gosto pela leitura não pode surgir da simples proximidade material com os livros, é preciso que alguém lhes dê vida, e não acontecerá de uma hora para outra; construir cultura leitora é tarefa para toda uma vida, deve começar e ser mantida em casa, com total apoio da família (o prazer da leitura se constrói, e a competência se desenvolve através da leitura).
O acervo deve ser pensado de forma a compor um estimulante conjunto inicial de livros, bem como deve prever sua constante renovação e atualização, para manter e atrair o interesse de seus frequentadores. E este acervo deve ser selecionado pelo professor, pois é ele que sabe de suas prioridades e necessidades e conhece seus alunos, precedentes indispensáveis para construir um acervo que faça sentido à comunidade escolar.  É igualmente fundamental pensar que elas devem integrar-se ao projeto pedagógico das escolas, desde o horário de funcionamento – incluindo o período noturno – até a realização de um planejamento ajustado à disseminação da leitura literária, que atenda e vá além da demanda curricular. A presença de profissionais preparados – e com garantias de permanente requalificação – tanto para a organização dos espaços, quanto para assessorar o leitor iniciante em suas buscas e com dicas de leitura.
A criação de uma rede de conectividade (internet banda larga) entre as bibliotecas é mais uma forma de promoção do intercâmbio de experiência e renovação do conhecimento em um país como o nosso, com as proporções territoriais e diversidades, de modo a romper a defasagem que o isolamento geográfico inevitavelmente gera.
A capacidade das bibliotecas de promover a leitura depende diretamente do uso que se faz delas. E o uso será cada vez mais intenso quanto melhor for a qualidade dos serviços prestados. E daí, derivarão outros impactos.
Rede Mobilizadores - A leitura transpõe desigualdades? Poderia falar sobre a importância da leitura?
R.: A leitura não é a panaceia para todos os males, mas certamente quem está excluído da possibilidade de ler, entender o que lê, argumentar com competência oralmente ou pela escrita está em defasagem natural perante aqueles que detêm estas competências plenamente.
Tenho a mais absoluta convicção de que não há equidade possível sem o pleno exercício das competências de leitura, escrita e argumentação oral. Não há equidade possível sem o pleno acesso ao conhecimento produzido pela humanidade e contido nos livros. E tenho a mais absoluta certeza, alimentada em treze anos de trabalho e estudo, que construir uma cultura de leitura é um grande desafio civilizatório, cujas estratégias mais ignoramos do que sabemos. A leitura é uma atividade social que nasce a partir da mediação de um adulto educador, pais e professores, com a criança. Não nascemos leitores, nos tornamos leitores porque esta é uma prática social. Tornamos-nos leitores por convívio e por contato.
O grande desafio está em descobrir que a chave está em reconhecer o que nos torna iguais entre desiguais; que nossa igualdade está dentro e não fora de nós, que compartilhamos sonhos, medos, esperanças, contradições ... Coisa que a literatura é pródiga em revelar: estamos conectados a um mesmo destino comum.
Compartilho uma livre adaptação do pensamento da pesquisadora colombiana Yolanda Reyes: “a literatura é uma nutrição emocional oferecida pelo acompanhamento amoroso dos adultos. É expressão da nossa humanidade comum que deve ser oferecida à criança e ao jovem para que descubra não apenas quem é, mas também quem quer e pode ser”.
A literatura acorda a fantasia, a imaginação, vitais para o cérebro realizar sinapses sobre temas abstratos - como a matemática - e desafiadores, como a equidade e a sustentabilidade.  O mundo que queremos não existe, ele precisa ser imaginado.
Fonte: Coep Nacional

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