Você cuida da sua privacidade?

Por Cristiane Parente (31/01/2018) - Blog Educação & Mídia - Gazeta do Povo
Conta a lenda que o caçador Actéon foi transformado em veado e comido pelos seus próprios cães de caça depois que a deusa Artémis percebeu que ele a tinha visto nua a banhar-se. Esse foi o castigo por ter violado a sua privacidade, uma preocupação que parece vir de muito tempo.
Mas será que em tempos de internet o conceito de privacidade é o mesmo? E é igual para todas as pessoas?
Privacidade pode ser encarada como o cuidado, a habilidade que alguém tem para controlar a exposição e disponibilização de informações sobre si mesma. Os dicionários falam de privacidade como a condição do que é privado, pessoal ou íntimo, de um local ou ambiente afastado da vida pública ou social, lugar de recato e sossego; intimidade; seio da família…
A etimologia diz que a palavra vem do latim privatus, “pertencente a si mesmo, colocado à parte, fora do coletivo ou grupo”; particípio passado de privare, “retirar de, separar”; de privus, “próprio, de si mesmo, individual”, que por sua vez vem de pri-, “antes, à frente de”. Aquele que está à frente dos outros está separado deles, está por sua conta. (Site Origem da Palavra)
No contexto em que vivemos, de uma sociedade cada vez mais digital, como proteger nossa privacidade tendo em conta que ficar fora deste mundo virtual é quase uma ilusão?
Para responder a essa pergunta, vale a pena refletirmos sobre nossos comportamentos e imaginar algumas situações. O que faríamos, por exemplo, se alguém que nunca vimos nos abordasse na rua perguntando onde vivemos, estudamos e trabalhamos, quem são nossos melhores amigos, por onde costumamos andar, etc? A maioria de nós provavelmente nem consegue imaginar um comportamento diferente que não seja simplesmente não responder. Por que então, tantas pessoas acabam por não apenas responder, mas dar essas informações sem precisar que ninguém pergunte? Você já pensou que o que publica na internet serve de dados para pessoas e organizações monitorarem sua vida, seus hábitos de consumo, suas relações e seu comportamento cidadão e de consumidor?
Os dados são considerados o novo petróleo do século XXI (The Economist, 2017), então, como garantir privacidade quando estamos cercados de avisos “Sorria, você está sendo filmado” e pedem nossas informações pessoais a cada compra online, download de publicações, criação de contas de e-mai, inscrição em sites, pesquisas no Google, etc? Você já se perguntou como, quando, onde e por quanto tempo nossos dados “trocados” na internet por algum serviço e produto serão usados?
Em uma conversa com amigos, percebi que  um simples aplicativo de saúde/ esporte que conta nossos passos e verifica se caminhamos o suficiente para ter uma vida saudável, acaba por memorizar nossos caminhos cotidianos. O que uma empresa pode fazer com isso? Só para dar um exemplo, vender nossas informações para lojas de produtos por esse percurso e mandar-nos SMS e e-mail marketing em horários determinados, sempre que se souber que estamos próximos de determinados locais, estimulando que entremos nos mesmos. Quantas pessoas tem noção disso ou acham simplesmente que é uma grande coincidência ou um “sinal” de que realmente deveriam dar uma “olhadinha” naquela loja?
Você ficaria surpreso com o que alguns sites como YouTube e o Google sabem sobre você. Quer fazer um teste? Se você anda com aplicativos de localização e costuma fazer check-in em diversos locais, vale a pena dar uma olhada nos seguintes links, que te dão as informações dos lugares que você andou visitando, além das pesquisas no Youtube :
Todas essas informações valem ouro para empresas que trabalham com social media, redes sociais e marketing digital, para transformar você em um cliente. Ao mesmo tempo, podem ser informações perigosas já que qualquer pessoa pode acessá-las.
Para ficarmos mais atentos, seguem algumas dicas de cuidado ao utilizar a internet. Não são novas, mas não custa lembrar :
1- Ao efetuar check-ins, prefira fazer apenas de locais públicos e que não identifiquem onde você vive, trabalha ou estuda. E faça sempre ao sair deste lugar, não ao chegar. É mais seguro! De preferência, deixe essa informação visível apenas para amigos (e já agora, no Facebook, por exemplo, você pode configurar sua lista em amigos ou conhecidos e escolher para quem quer deixar as postagens visíveis).
2- Quando for viajar, não compartilhe o roteiro detalhado de sua viagem e os dias em que estará longe de casa.
3- Não coloque fotos que mostrem muito de você e da sua intimidade (casa, carros, bens, trabalho, praias e/ou clubes que frequenta, fotos íntimas, etc). Da mesma forma, evite colocar fotos de crianças, especialmente se estão de uniforme escolar ou outro traje que identifique os locais que frequentam.
4- Não fale em dinheiro e sobre sua situação financeira. Essa questão é pessoal e deve ser compartilhada off-line, apenas com as pessoas mais próximas.
5- Nunca publique fotos de amigos, parentes ou outra pessoa, sem a autorização dos mesmos. Exemplo: Há uma tendência em olharmos apenas para como ficamos nas fotos, esquecendo que as pessoas que estão ao nosso lado podem não gostar daquela foto, por isso, seja por questões estéticas, respeito à privacidade alheia ou por segurança, peça autorização a cada uma.
6- Procure conhecer e usar as configurações de privacidade de suas redes sociais. A partir delas, você escolhe quem pode marcar você numa foto, quem pode ver o que você publica, se sua lista de amigos é visível, quais dados pessoais são visíveis para o público, etc
7- Na rede temos vários posicionamentos ideológicos e comportamentos com os quais não concordamos. O ideal é não discutir e simplesmente sair do debate. Mas caso receba alguma ameaça, não revide, não escreva outra ameaça. Tudo que você escreve pode ser “printado”, gravado, compartilhado e você pode sofrer consequências sérias. Simplesmente ignore e/ou avise às autoridades.
8- Não esqueça de mudar senhas de vez em quando. E de não usar e mesma senha para tudo. Há programas que conseguem capturar senhas, sem falar da possibilidade de alguém ver você digitá-la. Cuidado!
9- Atualize sempre seu antivírus e seu software e mantenha a firewall ligada.
10- Quando estiver se cadastrando em um site, dê o menor número de informações que seja possível.
11- Não adicione desconhecidos. Às vezes só saber que você está online pode ser uma informação importante para quem quer fazer o mal.
12- Cuidado ao usar computadores públicos. Nunca deixe sua senha gravada e certifique-se de que o navegador da internet não está configurado para gravar automaticamente as senhas; evite deixar arquivos com suas informações na máquina, como um currículo, um trabalho da faculdade, downloads que você fez, etc e lembre-se de sair de todas as páginas que você entrou. De preferência, use navegação anônima.
13- Google, Yahoo e outros motores de busca são usados para procurarmos informações, mas, ao mesmo tempo, também memorizam nossas buscas e o tipo de informação que usamos. Isso nos ajuda por um lado, porque nossas pesquisas passam a ser mais rápidas, por outro lado, o que gravam de nossas pesquisas serve para posteriormente começarmos a receber publicidade relacionada ao assunto que buscamos. Podemos sempre optar pela navegação anônima. Você pode fazer isso clicando nos três pontinhos que aparecem do lado superior direito do seu computador, quando está navegando na internet, e escolher a navegação anônima entre as opções que aparecem. Ou ainda, usar o atalho o atalho Ctrl+Shift+N. Isso faz com que uma nova tela apareça e você possa fazer suas pesquisas sabendo que seu histórico não ficará registrado. Não é uma proteção 100%, mas ajuda a proteger você em algumas ações online. 
Artigo escrito para o blog Educação e Mídia do jornal Gazeta do Povo - http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-e-midia/voce-cuida-da-sua-privacidade-online/

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